Quanto nos custa a “padronização da nossa beleza”?

Quanto nos custa a “padronização da nossa beleza”?

por Livia Pegneau

Quem nunca esteve na frente de um espelho, ficou olhando para seu rosto e pensando o que poderia melhorar algo ali. Puxando com as pontas dos dedos os cantos dos olhos, depois a testa, franzindo-a numa careta para ver se aparece muitas rugas. “ Só uma levantadinha aqui e resolvido, hein?”. Acredito também, que você já esteve num encontro descontraído com as amigas, entre vários assuntos, surge a seguinte conversa: “Se você pudesse mudar algo em você, o que faria?” Logo pensamos no aspecto do nosso corpo ou rosto.
“Colocar uns fios PDO, para sumir esse ‘bigode chinês’. Um Botox na testa e envolta dos olhos. Tirar a papada com uma lipo enzimática. Quem sabe diminuir olheiras?! Vi que fazem tatuagem para camuflá-las, mas também tem um laser novo. E o nariz? Tem como diminuir e afinar? Você viu a influencer X fez a nova lipo?…”
E a lista segue, cada uma falando de um novo procedimento que viu no seu feed nas redes sociais. Eles surgem aos montes, quase uma proliferação. Os algoritmos não dormem. É só você curtir algum post sobre o tema, dezenas de propagandas aparecem, com isso sua insegurança cresce se não tiver vigilante.
Não é à toa que o Brasil é o país que mais faz cirurgia plástica no mundo, deixando para trás os Estados Unidos. As “preferidas” pelos brasileiros são os procedimentos corporais, como lipoaspiração e implante de silicone mamário.
E nos últimos 10 anos, aumentou a procura de jovens entre 13 a 18 anos nos consultórios para cirurgia com finalidade estética. Corpos ainda em desenvolvimento, já tendo questões com autoimagem. Um procedimento bastante procurado por eles é a rinoplastia, a famosa cirurgia que molda o formato do nariz.
Ai não é de estranhar “Dismorfia Instagram” surgiu fortemente na nossa sociedade. Já ouviu falar? Não? Deixa eu te explicar: Como os filtros usados por todos nós, nas redes sociais, “transformam” os rostos, os afinando, tiram todas as manchas, igualam a cor da pele, sumindo com as linhas de expressão, aumentando os lábios, deixam os olhos da cor que desejar. Você acaba se tornando outra pessoa, com características ensinada a nós admirar, isso tudo acontece em um passe de mágica, num clique.
Quando você fica vendo “essa sua imagem” a todo momento no mundo digital, com sua voz, com seus movimentos, por muito tempo, porque cada dia ficamos mais tempo nesse mundo paralelo. E quando há volta para o mundo real, sem todos filtros, encontrando-se na frente do espelho aquele reflexo diferente, e não é aceito bem, quase que irreconhecível.

Agora imagina para meninas adolescentes crescendo acreditando que aquilo que aparece no celular é o Belo, e que facilmente alcançável. O resultado desse estranhamento é a ansiedade e depressão, surge ali um sofrimento, um tipo de adoecimento psíquico, logo em seguida, vem a busca por procedimentos e dietas malucas, não respeitando a individualidade corporal de cada um.

A gente acha tudo isso longe de nós, “coisa de jovem” ter essa insegurança, mas um dia brincando com uma amiga minha, mandei um vídeo com vários filtros, eu parecia uma menina de 15 anos. Quando eu tirei todas aquelas camadas digitais, foi um baque pra mim, houve um estranhamento, havia muita diferença de uma imagem para outra.

Como sempre fiz piada sobre com ela, demos muitas risadas. Porém, confesso aqui passou pela minha cabeça que poderia mexer em algo no rosto. Contudo, meu bom senso recordou que aquilo era uma miragem. Afinal, eu gastaria uma pequena, ou grande, fortuna para tentar chegar naquela imagem. Sei que muita gente o faz, que chega na sala de médicos pedindo “aquele nariz do filtro” ou “boca daquela atriz”.

O mercado de procedimentos estéticos fatura ao ano mais de R$ 168 bilhões, somente no Brasil. Entende agora, que não é só um filtro inocente, que a foto da influenciadora tal colocando foto de biquíni na rede social com sua nova aquisição cirúrgica, não é só life style. Sermos massacradas por inúmeras fotos e videos Há um mercado imenso, que fatura muito dinheiro, lucrando em cima das nossas inseguranças, ouso dizer que até mesmo criando-as em nós.

Olha que não é somente eu que aponto esse mal. A influenciadora Polly Oliveira (@pollyoliveirareal) debate sobre esse mercado, sobre essa padronização de nossos corpos e rostos com intuito de lucro. Ela até fez um experimento com os algoritmos das redes sociais, que mostram para nós com abrangência perfis de “mulheres padronizadas”, que produzem conteúdo de beleza e estética. As que falam sobre assuntos como feminismo, machismo, violência contra mulher, não tem os seus conteúdos entregue com eficácia, são “escondidos” pelo sistema. Não vou me estender aqui, para deixar vocês curiosas para conhecer essa mulher. Como vou deixar aqui também uma entrevista feita com a Polly, bastante interessante, onde ela explica o seu trabalho.

https://midianinja.org/marianesantana/o-experimento-e-o-dilema-dos-corpos-nas-redes-entrevista-com-polly-oliveira/

Agora você deve estar se perguntando: “Eu não posso querer fazer algum procedimento, para melhorar o que já tenho de belo?”. Lógico que pode! Mas antes de você fazer, posso te dar um conselho? Saiba o real motivo para tal intervenção, qual peso ela terá na sua vida. Procure entender se aquele procedimento fará no seu rosto, porque cada rosto é único.

Será que ter o nariz fino vai ficar bom no seu rosto? Será que aumentar muitos lábios combina com você? Se eu mudar tudo isso fisicamente significa o que na minha saúde mental? Será que serei realmente feliz passando por isso? Porque muitos procedimentos, parecem fáceis e práticos na tela, na realidade são dolorosos durante e depois da recuperação. a pergunta mais importante: Para quem você está fazendo isso.

Essas respostas virão com algo mais trabalhoso ainda: autoconhecimento! Não é algo good vibe como a gente espera. Dá um trabalho danado, demanda bastante tempo e dedicação. Incomoda bastante, afinal passamos anos escondendo de nós mesmos nossos traumas, sentimentos ruins, fingimos não ver os nossos defeitos. Entender o que é nossa vontade e da sociedade, separar isso é difícil demais, acredito que não tem fim. E aí, essas questões com imagem vão aparecer, você vai entender se aquilo que te incomoda realmente é necessário mudar. Porque você aprende amar até os seus defeitos, a entender que tem coisas que não irão mudar e tá tudo bem. Contudo, acredite: VALE A PENA!

Se você estiver nesse processo, e mesmo assim você quer melhorar algo no seu corpo. Faça! Porque o resultado de todo esse incômodo todo que descrevi acima: é o amor próprio! Não tem jeito, é o movimento de dentro para fora, e não ao contrário. O que vier acrescentar com uma intervenção cirúrgica ou uma dieta, não será o que te fará amar a ti mesmo. Você já vai saber se amar, essa é a maior beleza que há em nós.

Cine Por Elas

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