O Mito do Amor Romântico

O Mito do Amor Romântico

por Livia Pegneau

O amor romântico está tão bem enraizado em várias facetas da nossa vida, que ninguém sabe exatamente quando começamos a acreditar em tudo que nos foi prometido. A imagem é: todas nós mulheres somos lindas e indefesas princesas, vamos todas encontrar um príncipe, este que por sua vez vai nos salvar, em seguida vamos nos apaixonar por ele e ele então será o nosso maior motivo para viver, nos casaremos e viveremos felizes para sempre. Tudo muito mágico.
Desde cedo, aprendemos a desejar isso. Desde as falas dos familiares e amigos, assim como nos inúmeros livros, poesias e contos, sem contar na mídia, filmes, novelas e séries que produzem e reproduzem em seus enredos a normalização do amor romântico. Como escreveu Oscar Wilde “a vida imita a arte mais do que a arte imita a vida”.
Isso tudo ainda perdura por gerações, e a mulher que ousa viver outro tipo de roteiro, se experimenta diferentes formas de amor ou tira o matrimônio do centro da sua vida, será massacrada por estereótipos e marginalizada socialmente. Não, não é fácil ser diferente, ainda mais para as mulheres.
Porém, não se desespere! A sociedade é orgânica e está mudando a cada dia (sei que “com passos de formiga e sem vontade”, como já diria Lulu Santos). Mas temos uma mudança sim dessa visão da princesa indefesa, pois a luta e a garra sempre foram características de muitas de nós, e há muitas de nós dispostas a apontar outros vários caminhos.
Acredito que nos últimos anos nunca questionamos tanto sobre o que é ser mulher, o que acarreta ser, e nestes questionamentos entra esse tal “mito do amor romântico”.
As redes sociais deram vozes a muitas mulheres sempre tão silenciadas. Começamos a ouvir várias de nós dizendo que esse “sonho de princesa”, na verdade, nunca foi favorável a nós. Seguir essa receitinha acabava nos silenciando sobre nossas vontades, sobre nossos sonhos, nossos desejos, e escancarando nossas diferentes visões de mundo em relação aos homens.
Aqui chegamos em um ponto crucial na falha desse plano do mito romântico: os homens. Eles não são criados para serem os príncipes que prometeram para nós. Como apontou a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que ficou mundialmente conhecida pelo discurso usado por Beyonce na faixa “Flawless

“Por ser uma mulher, as pessoas esperam que eu queira casar.
Esperam que eu tome as decisões de minha vida levando sempre em conta que o casamento é o mais importante.
Um casamento pode sim ser fonte de alegria, amor e apoio mútuo.
Mas por que ensinamos as garotas a querer casar
e não fazemos o mesmo com os garotos?”

Com todas as informações que nos chegam, o nosso horizonte fica cada dia mais claro: não precisamos regrar todas as nossas escolhas para o casamento. Podemos ter desejo de trabalhar, morar sozinha, viajar sozinha e ficar com quem queremos. Podemos ser felizes da nossa maneira, criar novas formas de vida e começar a mudar alguns estereótipos. Ainda há muito para mudar, muita luta pela frente, são séculos daquela fórmula arcaica.

Você deve estar achando que eu estou sendo otimista? Sim, eu sou! Mas, vou lhe provar com o exemplo maior, para mim, que são as princesas da Disney. Branca de Neve (1937), Cinderela (1950) e Aurora, Bela Adormecida (1959), foram muitas vezes a base da princesa que espera o príncipe encantado e da velha receitinha de casamento.
No começo da década de 90, tivemos outra leva de princesas, Ariel (Pequena Sereia – 1989), Bela (Bela e a Fera – 1991) e Jasmin (Aladdin – 1992). Essas já tinham voz mais ativa com seus parceiros. Sei que Ariel é um assunto sempre delicado, afinal ela abriu mão da voz dela por um homem, mas eu dou crédito, pois ela foi atrás do que quis, no caso era o cara. Afinal, você pode escolher querer a receitinha também.
Mas, a maior virada das princesas foi Mulan (1998). Ela até tinha um príncipe, contudo o foco dela foi salvar a China sozinha. Ela não era coadjuvante, ela era a autora da sua vida.
No começo dos anos 2010, veio a nova geração de princesas, com foco (quase) zero numa história romântica.  Mérida (Valente – 2012), que não queria casar logo, só queria ser livre para ser ela. Elsa e Anna (Frozen – 2013), amor entre irmãs era o foco, e mais ainda, há a crítica ao príncipe encantado. Veio também Moana (2016), que não tem nenhuma referência amorosa, na verdade, essa princesa salva seu povo e sua ilha devolvendo o coração para Te Fiti, deusa da criação. Para finalizar, a mais nova princesa, a Raya (Raya e o Último dragão – 2021), que salva o mundo com os amigos exercendo empatia e curando traumas.

Então, lhe digo: se atualmente, nem as princesas da Disney giram mais as suas vidas em torno de um homem, por que você, mulher do século 21, real, ainda espera um homem para resolver a sua vida? Vá viver a grande aventura da vida por você, amiga, aproveite a jornada, não carregue pesos que não precisa, não use a receita se não lhe cabe. Seja você a sua maior aventura! 

Livia Pegneau: ex crente do amor romântico,
como consequência dessa prática hoje tem
duas princesas tatuadas. Sempre trazendo
ideias necessárias de ser pensadas.

Cine Por Elas

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