Sororidade, mais que necessária

Sororidade, mais que necessária

por Livia Pegneau

Para você que fica buscando um exemplo prático sobre movimento de sororidade, acredita que ela nunca apareceu no seu dia a dia. Lá vai um: Você já experimentou estar dentro de um banheiro feminino, pedir um absorvente, porque sua menstruação acaba de chegar sem você esperar. Posso afirmar com todas as letras: Alguma mulher vai te ajudar!
Quase toda mulher sabe o desespero que essa situação gera. Assim, ela pode até não ter um absorvente ali na hora, mas vai dar um jeito de conseguir um, nem que seja pedindo para outra mulher ou indo num lugar comprar. Você será ajudada!


A palavra em si: SORORIDADE, apareceu a poucos anos na minha vida, mas na verdade, o seu conceito sempre esteve presente no meu olhar com outras mulheres. Confesso quando li o significado fez todo sentido para mim. “Pô, é isso!”.
Fui criada basicamente por duas mulheres, minha mãe e minha babá, carinhosamente chamada por mim, de minha mãe preta. Ambas independentes financeiramente e emocionalmente, sempre me alertaram: “O mundo é machista, é feito por homens e para eles.”. Contudo, elas me aconselhavam: “Você precisa ser mais inteligente que eles”. E sempre via entre as duas uma solidariedade uma com outra, um carinho de irmãs. Quantas vezes eu vi uma acolhendo a outra nos momentos difíceis, que a vida de todo mundo traz. Mesmo ambas pertencentes a mundos tão diferentes, algo as uniam. Hoje tem o nome de sororidade.


Então, quando essa palavra surgiu, seu significado foi muito fácil ser absorvido por mim. Eu cresci vendo aquilo dentro de casa. Acho que por isso até hoje sou amiga, que recebe ligação das amigas pedindo colo, pedindo para serem ouvidas. Também para falar besteira quando precisam dar umas boas risadas. Tento acolher todas elas, evitando julgamentos.


Pensar num conceito que prega o acolhimento, uma rede solidariedade, empatia e companheirismo entre mulheres num mundo tão machista, no mínimo dá um calorzinho bom no coração. Contudo, há muita gente que não esta interessada nessa união, que não serve só para lhe dar um absorvente, mas que pode mudar conceitos tão enraizados na sociedade patriarcal.

Volto aqui a defender as redes sociais, que nos possibilitou a nos ouvir mais, compartilhar nossas historias tanto tempo silenciadas. Um grande exemplo foi: O movimento “#MeToo”, 2018. A partir de uma denuncia feita contra o produtor de Hollywood Harvey Weinstein, que abusava sexualmente de várias mulheres com quem trabalhava, houve, lógico, que questionamento sobre a veracidade das acusações. Então, atriz Alyssia Milano sugeriu as mulheres colocassem seus relatos de abusos, com a #MeToo no Twitter. Assim surgiu uma onda de denuncias de abusos sofridos por mulheres em seu meio de trabalho no mundo todo. Mulheres se acolhiam nos depoimentos uma das outras, abriu um espaço de compartilhamento sobre essas dores de tanto tempo, houve discussão sobre a relação de trabalho entre homens e mulheres. Fomos ouvidas uma pelas outras, percebemos que nossas dores são similares. Muitos homens ouviram que comportamentos naturalizados por eles, não eram corretos.


Todo esse movimento mostrou a força da união entre mulheres, deixou claro o quanto temos que nos ouvir, precisamos estar atentas umas as outras, pois muitas vezes uma mulher esta passando por dificuldades calada, sofrendo com isso, sendo que ela pode ser acolhida, e o caminhar não ser tão difícil. Porque provavelmente a mulher do seu lado já passou por isso.


Você deve estar se perguntando por que não nos unimos antes. Porque a sociedade passou séculos construindo em nós idéias de rivalidades femininas, disputas por questões que só favorecem os homens, diminuindo nossa importância uma com as outras. Quantos filmes, livros, séries, novelas a gente vê a mocinha brigando com a vilã por um homem? Quantas vezes ouvimos que “Fulana roubou o marido da Ciclana”, colocando homem como a grande vitima. Ouvimos que outra mulher esta com inveja de você por ser bonita ou que você tem que se arrumar pra humilhar a sua “concorrente” numa festa. Que você não pode compartilhar sua felicidade com suas amigas, porque elas vão querer o que é seu. Os exemplos são inúmeros, sei que você pensou em algum ai. Sempre mulheres são inimigas, homens são amigos entre si, eles ainda se divertem com a nossa desunião fazendo inúmeras piadas.


A sororidade nos dá arma de nos unir para abrir espaços e questionar todo esse mecanismo que nos silencia em nossas dores, que nos isola uma das outras, pois para sociedade patriarcal nossa desunião é bastante interessante, nos enfraquece, e assim nos controla. Sabendo disso, sejamos mais gentis com outra mulher, tenhamos menos julgamentos, aprendermos ouvir a dor da outra mulher, se possível ajudá-la.

Porque separadas somos fortes, juntas somos imbatíveis.

Cine Por Elas

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