Quem são as bruxas?
O que faz uma pessoa ser considerada bruxa? Antigamente, na época da Inquisição, nos séculos XIV e XV principalmente, mulheres curandeiras, videntes, benzedeiras, parteiras (onde seus conhecimentos e práticas vinham da natureza), ou mulheres livres (que não queriam se submeter às regras da religião católica, sempre tão machista) eram condenadas por bruxaria e morriam por isso.
No auge da caça às bruxas, acusavam-se mulheres de bruxaria por qualquer motivo – desde inveja, por sua beleza, ou por sua inteligência, ou se enriquecesse rápido. Ainda havia o interesse pelos seus bens econômicos, como terrenos e casas, que eram pegos por alguém quando essa mulher era morta. O motivo mais absurdo eram as marcas de nascença, que podiam ser chamadas de “marcas do diabo”. Todos esses eram motivos para serem torturadas.
Quando havia acusação de bruxaria, essa mulher era submetida a várias sessões de tortura. Sessões que duravam dias, e ela acabava afirmando realizar práticas nunca antes feitas, como: ter feito pacto com Diabo, ter comido criança ou ter feito magia negra. Como qualquer pessoa durante a tortura, ela “confessa” qualquer coisa para acabar com sua agonia. No final acabava condenada e executada: ia para fogueira, ou decapitada ou jogada em rios com pedras amarradas em seus pés.
Antes desse movimento persecutório, as mulheres eram respeitadas em suas comunidades. Elas eram referências de cura através de ervas e poções medicinais, e por seus conhecimentos milenares passado através de gerações. O historiador francês Jules Michelet (1798-1874) citou sobre essa figura: “A ela se pede a vida, a morte, remédios, venenos”
Consegue imaginar o poder que ela tinha na comunidade? O quanto isso ameaçava a expansão da religião católica?
Conhecimento sempre assusta os ignorantes. Ainda mais para a sociedade proposta pela Igreja católica, onde a mulher deveria ser submissa às vontades do marido, servir a família cegamente, ser procriadora de filhos, ser controlada em todos os aspectos: corpo, mente e inteligência.
Então, as “bruxas” eram um perigo para a Igreja e seu controle feminino. Elas tinham conhecimento. Sabiam, por exemplo: quais ervas usar para não engravidarem e as forneciam a quem precisasse. Sabiam também os processos de cura para outras enfermidades, e por isso, eram muito respeitadas, e também, muito temidas pelo poder que tinham. Percebe o “perigo” que eram para sociedade? (contém ironia).
Vamos lembrar que desde Eva, lá em Genesis, a mulher sempre foi associada a algo ruim, que deveria ser punido e condenado, afinal “perdemos o paraíso porque ela comeu a maçã”. Nem vou nem te falar sobre Lilith, apontada por alguns estudiosos, como a primeira esposa de Adão. (vale o Google!).
Para vários fatos e acontecimentos terríveis que aconteceram no decorrer da história, a igreja católica esteve presente acusando personagens mulheres de serem as responsáveis, condenando-as pelo ocorrido. As bruxas fizeram aumentar essa lista de personagens. Assim, construíram a imagem negativa sobre as mulheres. Podemos falar que ainda vemos reflexo dessa construção até hoje no machismo.
E por que não aceitar que temos a nossa “magia”? Nossa intuição sempre muito afiada sobre o que nos cerca. Às vezes não a ouvimos e acabamos lá na frente nos arrependendo. Nós temos uma força dentro de nós de gerar uma vida, caso a mulher queira. Temos hormônios que oscilam trazendo forças diferentes a nós. (Ainda vamos falar mais sobre isso futuramente! Spoiler Alert!). Afinal, qual mulher nunca pescou uma mentira de um homem, quase que no ar, usando a nossa famosa intuição feminina!? E logo o nome “bruxa” vem para gente.
E os que chamam você de bruxa, por usar sua intuição e inteligência, no fundo lhe temem. Nada mais assustador do que uma mulher dona de si, que entendeu o seu valor precioso numa sociedade que lhe ensinou o contrário. Você está quebrando uma historia longa de submissão feminina. Dá medo mesmo aos ignorantes.
Vou te dizer: a construção do machismo como nós conhecemos; a ideia do que é ser mulher na sociedade machista que vivemos; tudo isso é algo que vem de milênios, e sentimos na pele até hoje. Sempre penso que se vivesse na época da Inquisição iria facilmente para fogueira, pois prezo a minha liberdade acima de tudo, tento sempre ouvir a minha voz interior, amo o mar, chego a venerá-lo, adoro cortar o cabelo na lua cheia… certamente seria vista como uma bruxa e seria queimada. Hoje, no máximo sou “queimada” por ideias arcaicas de pessoas que ainda não querem entender o quanto nós mulheres somos poderosas, o quanto não queremos mais esse bando de regra do que é ser mulher, pois já não nos cabe mais espaço tão antigo. Siga sua intuição, siga respeitando o seu corpo e siga a sua magia.
Por Lívia Pegneau