BLACK RIO!! BLACK POWER!!
Edson Bomfim
Antes de qualquer outra manifestação, gostaria de agradecer este convite e oportunidade de participar desta roda de conversa que com certeza irá contribuir para nossos conhecimentos, agradecimento especial ao Cine por Elas, a Thelema e ao Coisas de Ruth.
Quero iniciar destacando a importância deste debate neste momento de personificação e individualização das lutas, principalmente para nós membros da comunidade negra, mas, não só, tal movimento faz parte do que ficou costumeiramente chamado de pós-modernismo, onde a individuação e a negação dos processos históricos, são levantadas exacerbadamente, contrapondo-se a luta coletiva, e obviamente que o documentário aqui trazido, nos mostra exatamente o contrário.
Por outro lado, destaca-se ainda como funciona a estruturalidade do racismo e suas formas de luta pela manutenção do hegemonismo branco, seja na perseguição pura e simples, através da “criminalização”, sendo no caso específico das lideranças, seja na ofensiva midiática, comercial, entre outras.
Para tanto, a mídia assim como nos dias de hoje, não apenas busca cooptar nossas lideranças, como ao mesmo tempo desenvolve novos produtos musicais, de forma a conformar movimentos de alienação, que se contrapõem ao movimento de conscientização desenvolvido pela luta negra.
Não é demais lembrarmos que a música negra, que em geral é marginalizada, tem como referência a luta e expressão da nossa própria realidade, hoje expressa pela juventude com o Hip hop.
Assim a luta pela manutenção da hegemonia do branquismo se desenvolve em diversas frentes de combate a um movimento de identitarismo, pertencimento, reconhecimento da nossa plurietnicidade brasileira e o mais importante no combate a busca coletiva de direitos.
Gostaria ainda de destacar, um elemento que está presente muito rapidamente, que é uma faixa do IPCN – Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, fundada em 1975 e que com certeza, contribuiu para a conscientização negra, dos participantes dos grandes bailes blacks.
Por outro lado, é importante não esquecermos que mais ou menos 10 anos que antecedem tanto o surgimento do IPCN como do movimento Black Rio, tínhamos um movimento negro muito forte, representado entre outros, mas com ênfase no Rio de Janeiro, falo do Teatro Experimental do Negro – TEN, responsável entre tantas vitórias alcançadas, como por exemplo a instituição do termo negro,
qualificação política, advinda do movimento francês de negritude, que para além da luta em diáspora lutou pela independência dos países africanos, movimento desenvolvido principalmente por estudantes oriundos das colônias francesas; a desmistificação da democracia racial, com a realização na década de 1950 dos estudos patrocinados pela UNESCO sobre as relações raciais no Brasil que
subsidiaram as legislações posteriores da ONU sobre racismo.
Obviamente buscando encerrar, não antes sem deixar polêmicas, é importante destacar como bom soteropolitano, a diferença de como ocorre o movimento identitário de nossa negritude em cada parte do país e obviamente o destaque aqui é entre Bahia e Rio de Janeiro, enquanto na Bahia, especificamente em Salvador, tem início o surgimento dos blocos afros, no Rio de Janeiro acontece o movimento black, obviamente que as influencias estadunidense, se desenvolveram em todo o país, porém, é importante percebermos aqui como este processo acontece em cada estado, obvio se formos nos debruçar nos 26
estados teremos diferenças gritantes, porém, as semelhanças também são marcantes, com a construção do sentimento de pertencimento, auto valoração, desenvolvimento de táticas de agrupamento e enfrentamento da violência racista, e o principal a compreensão da coletividade como necessidade de êxito na luta.
Para finalizar, e aqui está o principal do que aponto como polêmica, está na aculturação absorvida pela comunidade negra carioca, através da Black Music, como sabemos está foi imposta a partir da ditadura militar e consequente subserviência brasileira aos ditames ditatórias e imposições econômicas, políticas, sociais e culturais estadunidenses, onde o próprio movimento black buscou a se assemelhar a luta dos direitos civis estadunidense, enquanto, as lutas desenvolvidas pelo Movimento Negro Brasileiro, já se encontravam em outro estágio mais avançado, visto mesmo a realidade percentual das nossas populações.
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Edson Bomfim dos Santos, bacharel em filosofia e Mestre em Ciências Sociais, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo; Membro do Núcleo de Estudos em Transculturação, Identidades e Reconhecimento e Membro do Grupo de Estudos Abolição, Coordenador Nacional de Organização do Quilombo Raça e Classe, Fundador e Coordenador Geral da Associação Cultural Coisas de Negres (Bloco Coisas de Negres)